“(…) Aquele solitário habitante do Portinho da Arrábida, “perfeito amador” da Serra e da solidão, sentia uma necessidade imperiosa de se aproximar dos outros homens, quando se encontrava entre eles.
Fazia-o sem nenhum espécie de reserva: abrindo-se, dando-se a eles numa entrega total. Assim se manteve sempre: por maiores que tenham sido as desilusões, nunca pôde nem quis abandonar esta atitude, a única em que podia estar sem constrangimento.
Em breve nos tornámos amigos. Foi graças a essa amizade que comecei, a partir de 1943, a ser um dos primeiros a conhecer os poemas que viriam a formar Serra-Mãe.
Chegava da Arrábida e recitava-me os versos acabados de compor. Pude assim sentir de perto como o Poeta vivia a sua poesia. Ao recitar os seus poemas, como que se transfigurava: os seus olhos brilhavam, todo o seu corpo vibrava e parecia acompanhar a voz, que articulava lentamente cada verso. (…)”
GAMA, Sebastião,Serra-Mãe
Sebastião da Gama (Vila Nova de Azeitão, Setúbal, 10/4/1924 – Lisboa, 7/2/1952)
Poeta e professor de Português, colaborador das Revistas: Árvore e Távola Redonda, fundador da Liga para a Protecção da Natureza (1948), licenciado em Filologia Românica.