Negra! negra! como a noite
d’uma horrível tempestade,
mas, linda, mimosa e bella,
como a mais gentil beldade!
Negra! negra! como a asa
do corvo mais negro e escuro,
mas, tendo nos claros olhos,
o olhar mais límpido e puro!
Negra! negra! como o ébano,
seductora como Phedra,
possuindo as celsas formas,
em que a boa graça medra!
Negra! negra!… mas tão linda
co’os seus dentes de marfim;
que quando os lábios entreabre,
não sei o que sinto em mim!…
II
Só, negra, como te vejo,
eu sinto nos seios d’alma
arder-me forte desejo,
desejo que nada acalma.
se te roubou este clima
do homem a cor primeva;
branca que ao mundo viesses,
serias das filhas d’Eva
em belleza, ó negra, a prima!…
gerou-te em agro torrão;
S’elevar-te ao sexo frágil
temeu o rei da criação;
é qu’és, ó negra creatura,
a deusa da formosura!…
Joaquim Dias Cordeiro da Matta(Angola, 25/12/1857 – 2/3/1894)
Poeta,jornalista, investigador, é considerado o pai da literatura angolana, foi o primeiro a reivindicar uma literatura autóctone.
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