Vasco Graça Moura e o Acordo Ortográfico

“Devo dizer que considero o acordo ortográfico um chorrilho de asneiras, absolutamente incompatível com a dignidade da língua portuguesa e da identidade do nosso país, não por qualquer espécie de nacionalismo exacerbado, mas porque o acordo é completamente desajustado à maneira como nós falamos a nossa própria língua, e quando digo nós não digo apenas os portugueses de Portugal, digo os que falam português em Angola, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, em São Tomé e até em Timor.

O acordo vem desfigurar a maneira de pronunciar, e instaurar a mais perigosa confusão para a ortografia. É mesmo o contrário da ortografia.

Este combate nem é inglório nem é em vão. Porque o acordo não pode entrar em vigor. Basta dizer o seguinte. O acordo é internacional. Para um acordo internacional entrar em vigor é necessário que seja ratificado por todos os países que o subscrevem. Não aconteceu ainda. É completamente inválido o protocolo modificativo, que prevê que apenas três países subscrevam e ratifiquem, para depois se aplicar aos restantes. Não estando o acordo em vigor no plano internacional, também não pode estar no plano nacional. Primeira questão.

Segunda questão, mesmo que estivesse, um pressuposto da aplicação do acordo é a existência de um vocabulário ortográfico comum, o que quer dizer dos sete países que subscreveram o acordo. Não existe. Sem esse vocabulário ortográfico, não pode ser aplicado”.

Vasco Graça Moura em entrevista ao «Bom dia, Portugal”, RTP, excerto, janeiro de 2010

Vasco Graça Moura (Porto, 3/1/1942)
Poeta, ficcionista, cronista, tradutor, licenciado em Direito.

32 Respostas

  1. Inteiramente de acordo. Agora pergunto, o que se faz aos dcionários, livros, tudo o que está escrito? Vai tudo para o lixo?

  2. Completamente de acordo!!!…

  3. Os pais das crianças que agora estão a aprender as primeiras letras, e os dos outros alunos também, deveriam juntar-se e impedir que esta monumental asneira prossiga e vá tão longe que já não tenha remédio. Pelo meu lado pretendo não só continuar a escrever como me foi ensinado e considero que está certo, como também a assinar todas as iniciativas que façam frente a este disparate. Nunca a oralidade comandou a escrita, antes pelo contrário.

    • A srª D. Christina, perdão, Cristina, está redondamente enganada…

  4. Totalmente de acordo com o Dr.Vasco da Graça Moura.

  5. Claro voltavamos a dar razão inclusivé a Fernando Pessoa que também era contra o acordo ortografico de 1910 ou 1912(?) e pegavamos todos em “rewolvers” e davamos uns tiros a estes tiranos, depois fumariamos uns pensativos cigarros acesos com “phosphoros” à porta de uma qual quer “Pharmácia” e deixariamos feliz um dos maiores vultos da literatura portuguesa que tambem se opunha ao acordo ortografico de 1910/1912(?)

    Não há paciência para tanto disparate…

    • “Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.” – Fernando Pessoa (in Livro do Desassossego)

      Esta era a ortografia usada por Fernando Pessoa. A de que ele escarnece, é a resultante da Reforma Ortográfica de 1911. Deveremos, pois, concluir que esta (a que os puritanos contra o A.O. pretenderiam continuar a usar) não é a Língua Portuguesa que considerava sua pátria? Poderemos inferir que a Língua Portuguesa acabou com ele?

    • Caro Jorge Madeira, não gosto de comentar lapsos (ortográficos ou outros) no Facebook, que se presta especialmente a isso, Mas não leve a mal que o faça em relação ao seu comentário agressivo, uma vez que aponta «tanto disparate». Não houve acordo ortográfico (nem ortografico) de 1910 nem de 1912, Houve uma reforma da grafia portuguesa, em 1911, não por acordo com o Brasil mas por decisão da I República. Não se escreve rewolvers, nem em português nem em inglês. Não se escrevia Pharmácia mas sim pharmacia. Também não me parece que inclusive leve acento gráfico na última letra (em troca, V. não o põe em palavras que realmente o levam, quer segundo o «acordo», quer segundo a norma até agora vigente). O que se tem estado a discutir não é entre a grafia de Pessoa e outra, mas sim entre a adoptada em 1945 (com algumas mudanças depois), com a inicial concordância do Brasil, que logo a rejeitou, e a do AO90. A sua agressividade parece-me deslocada.

      • Caro Francisco Belard,

        Admita que o distanciamento etimológico dá-se a partir da reforma ortográfica de 1911. Distanciamento esse que, comparativamente, foi muito mais profundo e afetou muito mais a nossa ortografia que o AO90. Se essa é única argumentação que apresenta contra este acordo, por uma questão de coerência, deveria pugnar pelo retorno à ortografia anterior à reforma de 1911.

  6. O único argumento contra o AO apresentado nesta esposição é:

    “O acordo vem desfigurar a maneira de pronunciar, e instaurar a mais perigosa confusão para a ortografia.” O Dr. Graça Moura até era capaz de fazer melhor do que isto.

    Convido a uma leitura diferente, a favor do acordo ortográfico, que vai muito além da opnião de poetas, ficcionistas, cronistas, tradutores e licenciados em Direito.

    “7 razões a favor do novo acordo ortográfico.”

    http://democraciadasfalacias.blogs.sapo.pt/9414.html

    • Muito obrigado por apresentar aqui este texto “7 razões a favor do novo acordo ortográfico.”

  7. Irei combater este pseudo Novo Acordo Ortográfico até ao fim! Assinei a petição contra e não escreverei a minha Língua Mater com tal desvirtuação.

    Isabel Vilaverde

  8. Respeito todas as opiniões e não poderia ser de outra maneira, no entanto para haver opiniões contra haverá com certeza opiniões favoráveis, o que é o caso da minha. E porquê? Quem reparar na velocidade das nossa vidas, na volatilidade das certezas em que hoje uma coisa é verdade e amanhã já é mentira, nos conceitos arcaicos de civilizações passadas, no orgulhosamente sós que já vivemos e que deu no ponto em que hoje nos encontramos, como portugueses, perceberemos que não vale a arranjar problemas onde eles não existem. Que me interessa a mim a maneira como meus filhos ou netos falarão? Que me interessa a mim uma matéria que é criada pelo pensamento e que apenas representa o passado e que não resolve os verdadeiros problemas da humanidade?
    E eu escrevo pela maneira antiga e a mim isso não me incomoda, bem como uma filha de oito anos que já está na escola a funcionar com o novo acordo e, orgulhosamente, mostra a diferença da sua forma de escrever para a minha sem complexos nem sobranceria, apenas que é diferente.
    Não seria muito mais útil utilizarmos essa energia de querer mudar o mundo para na realidade percebermos e darmos a perceber que o consumo excessivo de carne é uma das maiores causas de fome no mundo, de poluição a todos os níveis? Não seria muito mais útil ensinarmos os nossos filhos a alimentarem-se correctamente para uma saúde duradoura? Não seria muito mais útil percebermos que os empacotados televisivos destroem a maneira correcta e livre dos nossos jovens pensarem, analisarem e agirem de forma livre em vez de saírem de casa já com as opiniões feitas pelo que se diz na TV?
    Bem, o ensino correcto passa muito mais pelo conteúdo que pela forma e discutir o acordo ortográfico é estar a discutir a forma. O mundo está constantemente a mudar e nós andamos preocupados com a cor do pijama que vamos vestir à noite. A globalização, de que a net é testemunho, não se compadece com o olhar para trás.
    Luís Franqueira.

  9. subscrevo na íntegra as palavras e decisão de VGM
    enquanto escritor e colaborador que sou de diversas publicações em Portugal nunca abandonei a “antiga” forma de escrever a minha língua. e assim continuarei

  10. É só ver a etimologia das palavras. e ver-se-á o chorrilho de disparates que foi este “acordo”.
    “Tout court”!!!

  11. Enquanto portugueses ,que ensinámos a nossa língua a outros, devíamos, no mínimo respeitá-los!

  12. O acordo é uma violência para a nossa identidade nacional. Aplaudo de pé o gesto de Graça Moura. Venham outros com bom senso e cancelem aquela idiotice

  13. Tudo isto é grotesco num país em que por tudo e por nada se clama pelo seguimento do que se faz ou fez já na Europa. Pergunto: quando é que o
    Reino Unido alguma vez demonstrou interesse em fazer Acordos Ortográficos
    com a poderosa ex-colónia ‘major’, os USA (onde se usa o “Lite” em vez do
    “light” e muitos mais outros exemplos de que me dispenso enunciar?
    Tenhamos juizo. Mais tenhamos mostremos uma agressiva vergonha pela
    obra de unsa quantos “sábios” excessivamente sensíveis aos interesses comerciais dos Editores-Distribuidores e similares.
    Já estamos anestesiados — ao verificarmos a utilização do termo americano
    CAMPUS aqui e acolá, sem qualquer justificação. Ele é o Campus da Justiça,
    é o Campus do Benfica ou do Sporting, etc…E então o Entrecampos passa a
    dever escrever-se InterCampi???
    Explicaram-me, em tempos recuados que em Ronga (dialecto do sul de Moçambique), ‘Um livro de Ronga’ se escrevia e dizia: “Á Buku xi-ronga” —
    e elucidaram-me que o termo buku para designar livro se devia a: 1) Não
    existir uma palavra em Ronga para designar esse objecto (um livro) e 2)
    Tratava-se de uma corruptela derivada da insistencia dos missionários ingleses de antanho, referindo o ‘Holly Book’ (a Bíblia)…
    Será que já nos acocoramos ao nível desse subdesenvolvimento cultural??
    Só que a diferença maior é que nós temos a nossa sintaxe, fruto de uma
    evolução centenária de que vamos agora ter de abdicar porque uns comerciais quaisquer entreviram umas mirificas vantagens comerciais na
    aceitação de um português inquinado de guarani, bantu e de uso (abuso)
    por milhões de semi-analfabetos? — Isto não é políticamente correcto, eu
    sei. Mas quando o escandalo é ingente é difícil dourar a pílula.
    Pois não é só os ‘espectadores’ que passam a ‘espetadores’ e o participio passado do verbo ‘pegar’ que passa poder ser PEGO e “vou denuncia-la” que aceitará também “vou lhe denunciar”… é todo um alargado “chorrilho” como o acoimou e bem um português ilustre chamado VASCO GRAÇA MOURA — com quem não concordo politicamente, mas a quem saúdo pelo desassombro da posição publicamente assumida.

    NOTA FINAL:

    Miguel Unamuno escreveu a Sua Majestade El-Rei D.Carlos: “Un Portuguès
    es un Espanol sin huesos” queria o filosofo aludir ao nosso habitual “bom-
    -senso”, o n/ estatuto de “serenidade”, de inibição de manifestações de rejeição — típicas de sociedade castrada pela Santa Inquisição, pelo Intendente Pina Manique e por aquele Prof.Dr. que ‘estudava com dúvida mas realizava com fé’ num fascismo adoçado, ao alcance da adesão das alminhas dos seus sacrificados paroquianos (agora ditos “piegas”, finalmente) — será que não sxeremos capazes de erguer uma onda, um tsunami faz favor, de reprovação, de recusa, de nojo (luto) por tais degradantes convénios feitos por um grupelho de ilustres, de último minuto sim, mas capacitados para infectarem as gerações vindouras com os resultados das mal-esgalhadas decisões que tomaram “em representação de Portugal” ?
    Será que vamos todos aceitar, ‘maldizentes mas bem-comportadinhos’, como é n/ uso, esta virulenta condenação?

  14. Por que antes de se dizerem bacoradas destas, convêm ter as mínimas noções do que se fala…

    APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DA LÍNGUA
    Guilherme Ribeiro

    PERIODIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA

    A história da ortografia portuguesa divide-se em três períodos distintos: FONÉTICO, PSEUDO-ETIMOLÓGICO e SIMPLIFICADO.

    1. PERÍODO FONÉTICO

    Este período inicia-se com os primeiros documentos redigidos em português e termina no século XV.

    A escrita neste período caracteriza-se pela forte tendência para ortografar as palavras tal qual eram pronunciadas: honrra; ezame; etc. Porém, a ausência de uma normalização ortográfica conduzia a uma variação na representação dos sons da linguagem falada. O som /i/, por exemplo, era representado ora por i ora por y; a nasalalização realizava-se através do m ou do n o do til (bem, ben, b~e), etc.

    Por outro lado, a ortografia não acompanhou a evolução que se operava no oral, conservando-se palavras como “ler” e “ter” grafadas com vogal dupla: «leer», «teer>.

    2. PERÍODO PSEUDO-ETIMOLÓGICO

    Inicia-se no século XVI e prolonga-se até 1911, ano em que é decretada a reforma ortográfica, fundada nos preceitos da gramática de Gonçalves Viana, publicada em 1904.

    Com a chegada do Renascimento e a admiração dos humanistas pela cultura clássica, motivou uma atenção particular para o Latim. Esta atitude levou a que os eruditos aproximassem o mais possível a língua portuguesa à sua língua-mãe. Este facto provocou o abandono da simplicidade da representação fonética e deu lugar a uma escrita com base etimológica. Assim, começámos a assistir ao aparecimento de grafias como fecto (feito), regno (reino), etc.; a um frequente emprego de consoantes duplas (metter, fallar, etc); à ocorrência dos grupos dígrafos PH, CH, TH e RH (pharmacia, lythografia, Matheus, Achiçles, etc.).

    Por outro lado, o pretensiosismo, aliado a uma certa ignorância, levou à prática de exageros. Entre outros casos, deixamos como exmplo o seguinte: introduziram-se letras que não eram pronunciadas, como esculptura; astma; character; etc.; o y passou a figurar em muitos vocábulos, como lythografia, typoia, lyrio, etc..

    No fundo, o que se pretendia era transformar a escrita em etimológica, mas a ignorância não permitiu que tal se realizasse total e plenamente. Daí o nome “Pseudo-Etimológico”. Segundo J. J. Nunes «por este processo recuavam-se bastante séculos, fazendo ressurgir o que era remoto, e punha-se de lado a história do nosso idioma…»

    Mas não se pense que os critérios ortográficos, no decorrer deste longo período, foram aceites de forma pacífica. Aliás, cedo as reacções ganharam eco. Em 1576, Duarte Nunes de Leão, um dos primeiros gramáticos portugueses, critica a pseudo-etimologia. Tal reprovação surge, em 1633, por Álvaro Ferreira Vera, na sua “Ortographia ou arte para escrever certo na lingua portuguesa”. Já no século XVIII, D. Francisco Manuel de Melo (pelo menos em uma das suas obras: “Segundas Três Musas do Melodino) opta por uma ortografia simplificada, pondo praticamente de lado o uso de consoantes dobradas, grafando f em vez de ph, e substituindo o dígrafo ch, com o som de /k/ por qu (farmacia – pharmacia; Aquiles – Achiles).

    No século XVIII, Luís António Verney, com “O verdadeiro método de estudar”, não só propunha uma ortografia simplificada, como, usando precisamente essa mesma ortografia, fazia desta sua obra um exemplo a seguir.

    Apesar disso, o que acontecia na quase totalidade dos escritos, sobretudo a partir da publicação, em 1734, da “Ortografia ou arte de escrever e pronunciar com acerto a lingua portugueza”, de João Madureyra Feijó, era o recurso à grafia mais complexa.

    Em relação aos acentos, o seu uso era muito restrito e o seu emprego não obedecia às regras de hoje.

    Nos inícios do século XIX, Almeida Garrett apresentava-se como defensor de uma escrita simplificada e insurgia-se contra a ausência de uma norma regularizadora da ortografia. E, seguindo este mesmo espírito, muitos outros, entre os quais Castilho, ergueram a sua voz em defesa de uma reforma ortográfica.

    Todavia, e tal como acontecera com os adeptos da grafia etimológica, também a ‘febre’ de simplificação da ortografia levou a que se cometessem numerosos disparates e a que, em finais do século XIX se assistisse a uma ortografia quase anárquica (cada um seguia o que se lhe afigurava mais adequado).

    3. PERÍODO SIMPLIFICADO

    Desde a Ortografia Nacional até aos nossos dias.

    Com vista a normalizar os documentos oficiais, o Governo nomeou uma comissão para estabelecer uma normalização da ortografia. Esta limitara-se a seguir e oficilizar as propostas defendidas por Gonçalves Viana, em 1907.

    A reforma de Gonçalves Viana prescrevia:

    a) «Proscrição absoluta e incondicional de todos os símbolos da etimologia grega: th,ph, ch (=>K), rh e Y;

    b) Redução das consoantes dobradas a singelas, com excepção de RR e SS, mediais, que têm valores peculiares;

    c) Eliminação das consoantes nulas, quando não influem na pronúncia da vogal que as precede;

    d) Regularização da acentuação gráfica.»

    Esta reforma foi tornada obrigatória em 1911.

    Em 1911, as Academias de Letras do Brasil e de Ciências de Lisboa, celebraram um acordo ortográfico, com vista a solucionar divergências ortográficas entre o português de Portugal e o português do Brasil.

    Em 1943, os dois países tentam um novo entendimento, de onde resultou o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, redigido pela Academia de Letras do Brasil.

    Este Vocabulário serviu de referência até aos nossos dias, e impunha como regras o seguinte:

    A. Emprego do H:

    O H não tem valor fonético na língua portuguesa, como já o não tinha no Latim. Só se emprega como inicial quando a etimologia o exige:

    hoje,

    haver,

    hélice;

    etc.

    Como medial, só se emprega nos dígrafos:

    __ CH, LH e NH:

    ;mancha,

    malha,

    vinho,

    etc.

    __ e nos compostos unidos por hífen, nos casos em que o segundo elemento é iniciado por H:

    pré-história;

    super-homem;

    etc.

    B. Emprego do CH:

    O digrama CH, inexistente em Latim, é o resultado da evolução fonética dos grupos consonantais latinos PL, CL e FL:

    pluvia > chuva;

    masclu > macho;

    afflare > achar;

    etc.

    C. Emprego do X:

    O X português corresponde:

    a) ao X latino:

    coxu > coxo;

    laxare > deixar;

    examen > exame;

    exaguare > enxaguar;

    etc.

    b) à palatalização do S em grupos como SSI ou SCE:

    passione > paixão;

    russeu; > roxo;

    pisce > peixe;

    miscere > mexer;

    etc.

    D. Distinção entre S e Z:

    __ Escreve-se com S:

    a) Quando a letra S portuguesa corresponde a um S latino:

    mensa > mesa;

    rosa > rosa:

    b) nos sufixos -ESA e -ISA, quando referidos a títulos nobiliárquicos e a profissões:

    princesa;

    poetisa

    etc.

    __ Escreve-se com Z:

    a) Nos casos em que o Z resulta da evolução dos grupos TI, CI e CE latinos:

    ratione > razão;

    vicinu > vizinho;

    feroce > feroz; etc.

    b) Nos substantivos abstractos derivados de adjectivos qualificativos: beleza, pobreza, robustez, altivez, etc.

    c) No sufixo -IZAR de origem grega: organizar, civilizar, e seus derivados: organização, civilização; etc.

    E. Emprego de SS:

    O S surdo português, em posição medial, geralmente provém:

    a) de um SS latino: ossu > osso; assistire > assistir; etc.

    b) de uma assimilação: ipse > esse; persona > pessoa; dixi (dicsi) > disse; etc.

    F. Emprego do Ç:

    O Ç provém da evolução de CE, CI, TE e TI latinos seguidos de vogal: lancea > lança; minacia > ameaça; matea > maça; pretiu > preço.

    G. Distinção entre G e J:

    a) O G português representa geralmente o G latino: gelu > gelo; agitare > agitar; etc.

    b) o J provém:

    1. da consonantização do I semiconsoante latino: iactu > jeito; iam> já; maiestate > majestade; etc.;

    2. da palatalização do S + I, ou do grupo DI + Vogal: basiu > beijo; caseu > queijo; hodie > hoje; radiare > rajar; etc.

    A obediência a estas novas regras acabava com os exageros do período pseudo-etimológico e promovia uma certa aproximação ao período fonético.

    Embora o objectivo essencial da reforma de 1911, pela aproximação da ortografia à grafia fonética, fosse pôr fim ao despotismo da tendência etimológicaO essencial da reforma ortográfica de 1911 foi acabar com o despotismo da etimologia, a verdade é que não se eliminaram totalmente os hábitos anteriores, dos quais continuou a perdurar, entre outros, o uso de consoantes mudas, como homem, directo, sciência, etc.)

    Além disso, no que respeita à utilização dos acentos, esta reforma distanciou-se da escrita dos primeiros tempos. Os acentos passaram a ser frequentes e, em particular, todas as palavras esdrúxulas possuíam obrigatoriamente acento.

    No essencial, as prescrições da reforma de 1911 vigoram até aos nossos dias, mas sujeitas a algumas tentativas de de ajustamento, entre portugueses e brasileiros, com vista a uma maior uniformização do idioma falado nos dois países, como as que tiveram lugar em 1920, 1929 e 1931.

    A grande reforma seguinte, em 1945, resultante de um acordo ortográfico entre Portugal-Brasil, sofrendo algumas alterações em 1971, continua a ser norma oficial da ortografia por que nos regemos ainda hoje.

    II. TENTATIVAS PARA A UNIFORMIZAÇÂO DA LÍNGUA PORTUGUESA ENTRE PORTUGAL E O BRASIL

    Considerando as tentativas para uma uniformização da língua portuguesa entre portugueses e brasileiros, nota-se que, exceptuando uma quase unidade no século XIX, têm sido sempre pautadas por perspectivas divergentes.

    É visível o interesse que ambos os países sentem em encontrar uma norma ortográfica comum. Tal já vem a ser demonstrado desde 1907, ano em que a Academia Brasileira de Letras, sob a orientação de nomes ilustres, como Euclides da Cunha, Rui Barbosa e outros, projectava uma reforma idêntica à defendida por Gonçalves Viana. Mas o facto da reforma de 1911 ter sido feita sem qualquer intervenção do Brasil, motivou que, durante anos, os dois países utilizassem ortografias completamente diferentes (Portugal, com a ortografia moderna e o Brasil ainda com a ortografia pseudo-etimológica)

    Em 1924, reunem-se, pela primeira vez, as duas Academias (a Brasileira de Letras e a das Ciências de Portugal). Em 1931, as duas Academias chegaram a um acordo preliminar, dando-se assim alguns passos na convergência ortográfica entre os dois países. Mas os Vocabulários publicados em 1940, pela Academia das Ciências, e, em 1943, pela Academia Brasileira de Letras, continham ainda algumas divergências.

    Depois, ainda em 1943, tentou-se de novo uma Convenção Ortográfica, na qual teve origem o Acordo Ortográfico de 1945. Porém, enquanto em Portugal foi oficializado pelo Governo, o Congresso brasileiro não procedeu à sua ratificação.

    De tentativa em tentativa, parece que nenhuma das partes pretende ceder a divergências quantas vezes mais emotivas que linguísticas, e as negociações para a uniformização ortográfica não vão passando de projectos. Vários têm sido os encontros __ 1971, 1973-1975, 1986 e 1990 __, mas tudo continua adiado… para uma só ortografia… ou para a separação definitiva? E, ainda que digam que nos entendemos, a verdade é que parece entendermo-nos cada vez menos. A solução seria acabar de vez com preconceitos e definirem consentânea e definitivamente uma reforma justa não pelos povos mas pela língua que os une (ou desune).
    (http://esjmlima.prof2000.pt/hist_evol_lingua/R_GRU-J.HTML)

    • Ora aqui está uma forma pseudo-erudita (digo pseudo porque não qualifica ou valoriza as alterações ortográficas — o único critério de valor positivo que surde é o da “simplificação”. Assim se poderá justificar que se escreva e diga
      PEGO em vez de PEGADO e pela mesma lógica, umor, umorista, umus em
      vez de humor, humorista e húmus e, já agora, adoptando o castellano que é
      pelo menos tão evoluído como língua quanto português: enrique em vez de
      henrique (já que enriquecer, sim senhor e henriquecer não senhor!).
      Ora bolas meu senhor Luis Eusébio, queira non abutere patientia nostra,,,
      Afinal a evolução de mãi para mãe pode julgar-se tão despropositada e falha
      de base linguística sólida como justificativa, mas «evoluir» de ‘secção’ para
      ‘seção’ ou de ‘facto’ para ‘fato’ — e abandonar o designativo “fato” para adoptar o “terno” (já agora terno de quê? (de copas, de paus?) …
      Degradar, rebaixar numa aceitação acrítica, só pela lógica da simplificação
      não pode ser aceite como uma razão válida, só porque somos apenas 10
      milhões (vá lá menos de metade disso se descontarmos os analfabetos e
      semi-analfabetos) contra mais de 2 centenas (vá lá 1/4 disso), envidando o
      mesmo tipo de descontos e deixarmos difundir tal ‘pidgin-portuguese’ como
      representativo da nossa língua? Olhe: Vade Retro! Vade Retro! Se me entende…
      Também era capaz de apresentar como contra-argumentação visando a
      desleixada ortografia ora dita com bizarra pesporrência na RTP : “Assim se
      fala em bom português!”, mas não iria adiantar nada e de parole, parole,
      estamos ou deviamos já estar bem fartos por cá. Ou deviamos de estar.
      Porque não será por via de assumirmos a degradação que os Autores brasileiros irão ganhar mais difusão entre nós e Vasco Graça Moura também
      sabe que não será por ter uma trancodificação em PT-BR que conquistará
      mais mercado no Brasil. E a venda de Dicionários e livros escolares non sunt
      regula valida também.
      Nem tal é justificação: afinal de contas de certezinha absoluta que José
      Saramago tem muitissimo, mas mesmo muitissimo mais vendas no Brasil do que em Portugal.
      Toda esta cena tresanda a estultícia, a incapacidade de segmentar mercados e à falta (ainda!) de interpenetração cultural mútua.

      E mais não direi porque aborreço picardias em bicos dos pés, com mais ou menos bacoradas (mesmo que sejam eruditas). Boa noite.

  15. Mas alguém o vai obrigar a escrever ‘pego’ em vez de pegar? Alguém lhe pede para escrever ‘terno’ (fato composto de três peças)? E, desde quando confunde um terno (seja de que naipe for) com terno (de ternura)? Se pronuncia o ‘c’ de facto, escreve facto. Se o não pronuncia escreve sem o ‘c’. Eu pronuncio ‘facto’ e continuarei a escrever ‘facto’. Nem por isso deixo de ser favorável ao acordo.

    A sua ignorância é confrangedora. Fala do que não sabe. Se sabe, ainda é mais grave por, deliberadamente, desinformar.

    Quanto a sua agressividade pacóvia pode espetá la onde melhor lhe aprouver. Mas, nem como espetador, conte comigo.

    • Afinal tanta exposição e citação de Títulos e Autores de prestígio para acabar com atitudes insultuosas, tais como acusar de expressar “bacoradas”, acoimar de ‘ignorante e pacóvio’ e terminar com alusões de tipo sexualmente insultuoso. “Mons parens mus”, diziam os antigos, tu depois de tanto show-off de erudição: nem mus — só esterco!
      Contar contigo, ó Eusébio estás bem livre disso meu caro candidato a espetador de homens. A não ser que te refiras aos
      apendices ósseos de que deves ser portador.
      Só tenho pena de não te ter encontrado cara a cara porque
      acharia forma reforçada de te devolver os insultos.
      Se tens folego para isso, indica onde e quando e como te posso encontrar para te ensinar uns ‘passes tauromáquicos’ — e não precisas de trazer armadura (como ‘espetador’, já a deves possuir)…

  16. Só alarvidades. Umas atrás das outras. Bruto. Estúpido que nem uma porta. Calhau! Carroceiro e filho da… mulher da gente!

    • Não te esforces mais pázinho. Vai chamar nomes à reles
      gentalha de onde saiste. Eu devia deixar as coisas por aqui
      porque estas tuas últimas prosápias xungosas definem-te melhor do que os textos que foste respigar a vários livros em
      apoio da posição de alma-vendida que assumiste, armado em sábio e subindo aosd ombros dos Autores que citas, mas como até recentemente fiz parte de um conhecido grupo de forcados amadores, habituei-me a enfrentar animais mais
      nobres do que tu porque não são cobardes.
      E também já consegui descobrir as coordenadas do buraco
      em que te acoitas diariamente e um dia destes, quando já nem
      o esperares, vou fazer-te uma “espera”, sem incitações prévias.
      Não vais perder pela demora, asseguro-te

  17. Venha!, ‘Vasconcelos’. Embolado, para não magoar me as Chocas…

  18. Um dos argumentos a favor do Acordo Ortográfico que vi apresentado nos comentários é o de que haverá a tendência para os falantes de português deixarem de se entender (“E, ainda que digam que nos entendemos, a verdade é que parece entendermo-nos cada vez menos.” – Luís Eusébio – Comentário de 8 de Fevereiro). Se é esse o argumento, é de facto artificial.
    E já agora esclareçam-me: há alguma língua europeia com ex-colónias que tenha um acordo ortográfico unificador ? Ouvi dizer que não. Será que esta questão é uma especialidade muito nossa ?

  19. Alemanha, França e Espanha, têm, segundo julgo saber, Miguel Rosa. Quanto ao Inglês, não tem. Mas não porque os Ingleses detestem a ideia. Não têm, por questões políticas que os ultrapassam.

    Transcreveu uma frase de Guilherme Ribeiro e não minha.

    • Tenho quase a certeza que não existe tal acordo na língua espanhola mas vou confirmar.

      E peço desculpa por o ter citado quando, afinal, estava a citar uma citação sua.

  20. O AO espanhol entrou em vigor o ano passao, Miguel Rosa. Veja em http://goo.gl/V648s

  21. Não me concordo com AO 1990, porque se é um bastardização de a língua e um insulto de orgulho nacional.

    Este Acordo ortografico de 1990 não é observado em África do sul pelo nosso comunidade portuguesa, mas AO 1945 é usado em vez.

  22. Realmente, concordo com o escritor Vasco Graça Moura, que o Acordo não tem interesse nenhum, e que os brasileiros lesam a lingua portuguesa, lá é verdade! os africanos não porque ficaram debaixo da “pata de Portugal” mais tempo, coisa que o Pedro IV livrou-nos, mas não sem antes o D. João, raspar o dinheiro todo que havia no reino ,e trazê-lo para pagar a dívida que Portugal tinha com a Inglaterra, “grande parceira sempre!”, isso foi quanto custou a Independência do Brasil”, mas deixemos isso de lado. Acho que o Brasil deve instituir a língua brasileira, Portugal deve ficar com a língua de que são donos, e assim, poderemos traduzir os livros muito melhor, aliás, os escritores brasileiros deveriam fazer como os portugueses, sendo que alguns já o tem feito, que é não admitir tradução para o idioma local.
    Quanto a alguns comentários, devo dizer que quando cá cheguei, diziam que não sabia escrever, de repente ainda não sei, mas vou tentando, afinal eu já falo vários idiomas, alantejano, açoriano, madeirense etc, guarani não, foi a língua que os portugueses fizeram questão de banir do Brasil e introduziram o português. Vamos esquecer o Acordo, não vale a pena, afinal, o Museu da Língua Portuguesa está no Brasil, é quanto o Brasil não se orgulha do idioma que os portugueses lá deixaram, e onde deveria haver o Museu da língua não há, que engraçado não?

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      Agradeço a sua participação, bem como a todos os visitantes que se têm manifestado sobre este tema!

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