Archive for Fevereiro, 2015

Onomatopeias – Vozes de Animais, Nova Versão de Publicação: Hiena / Hipopótamo / Jaguar / Javali / Jumento / Lagarto / Leão
Fevereiro 27, 2015

As Vogais

Onomatopeias são as palavras que imitam as vozes de pessoas ou animais, e os ruídos da natureza e de objectos.

A atual publicação terá uma nova apresentação relativamente às anteriores:

         1.Vozes de Animais – por ordem alfabética dos emissores, para mais fácil consulta!

         2. Outros Ruídos ou Sons

1.Vozes de Animais (continuação)

Hiena —————— gargalhar, gargalhear, gargalhadear

Hipopótamo ——— grunhir

Jaguar —————– rugir, urrar

Javali —————— arruar, cuinhar, cuinchar

Jumento ————– azurrar, zurrar, zornar

Lagarto —————  gecar

Leão ——————- bramar, fremir, rugir

(continua)

João Gaspar Simões – Retrato de Fernando Pessoa
Fevereiro 27, 2015

João Gaspar Simões

“Vejo-lhe sempre a cabeça inclinada, os lábios finos ondulando. amargamente, entre hesitações de desdém, a fronte pálida marginada no alto, por ligeiros e insubmissos cabelos cor de tabaco inglês, e os olhos rasgados, como num desenho decorativo, mais por exigências de harmonia do que por necessidade de visão. (…)

Abria-se o guarda-vento de cristal e, como se saísse de uma vitrina de museu, o meu amigo entrava com a cabeça inclinada, os lábios imóveis, a fronte recoberta por um chapéu vulgar, um tudo nada desabado.”

SIMÕES, João Gaspar, A Unha Quebrada

João Gaspar Simões (Figueira da Foz, 25/2/1903 – Lisboa, 6/1/1987)
Romancista, dramaturgo, ensaísta, crítico literário, biógrafo, co-fundador das Revistas Tríptico e Presença, licenciado em Direito.

Manuel Bandeira – Carta-Poema
Fevereiro 27, 2015

Manuel Bandeira

Excelentíssimo Prefeito
Senhor Hildebrando de Góis,
Permiti que, rendido o preito
A que fazeis jus por quem sois,
Um poeta já sexagenário,
Que não tem outra aspiração
Senão viver de seu salário
Na sua limpa solidão,
Peça vistoria e visita
A este pátio para onde dá
O apartamento que ele habita
No Castelo há dois anos já.
É um pátio, mas é via pública,
E estando ainda por calçar,
Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira-Mar!
Indiferentes ao capricho
Das posturas municipais,
A ele jogam todo o seu lixo
Os moradores sem quintais.
Que imundície! Tripas de peixe,
Cascas de fruta e ovo, papéis…
Não é natural que me queixe?
Meu Prefeito, vinde e vereis!
Quando chove, o chão vira lama:
São atoleiros, lodaçais,
Que disputam a palma à fama
Das velhas maremas letais!
A um distinto amigo europeu
Disse eu: – Não é no Paraguai
Que fica o Grande Chaco, este é o
Grande Chaco! Senão, olhai!
Excelentíssimo Prefeito
Hildebrando Araújo de Góis
A quem humilde rendo preito,
Por serdes vós, senhor, quem sois!
Mandai calçar a via pública
Que, sendo um vasto lagamar,
Faz a vergonha da República
Junto à Avenida Beira-Mar!

Manuel Bandeira (Recife, Brasil, 19/4/1886 – Rio de Janeiro, 13/10/1968)
Poeta, crítico literário e de arte, tradutor, professor.

Maria Teresa Maia Gonzalez – José
Fevereiro 27, 2015

Maria Teresa Maia Gonzalez

Tuas mas exímias

de artífice

alisam

com paciência

a superfície

altos

e baixo

da vida atribulada

que te veio inesperada

em sobressaltos

II

Guia protector

Pai delicado

que sonha com o anjo do Senhor

e abraça no seu colo

com fervor

o Filho inesperado

GONZALEZ, Maria Teresa Mais, Retratos Imperfeitos

Maria Teresa Maia Gonzalez (Coimbra, 1958)
Escritora, professora, co-autora da Colecção O Clube das Chaves, licenciada em LLM – Estudos Franceses e Ingleses.

Edmundo de Bettencourt – Mar Alto
Fevereiro 25, 2015

Edmundo de Bettencourt

I
Fosse o meu destino o teu,
Ó mar alto, sem ter fundo!
Viver tão perto do céu,
Andar tão longe do mundo.

II
Antes as tuas tormentas
Do que todas as revoltas,
Num sólio azul te adormentas
E a soluçar nunca voltas.

Edmundo de Bettencourt (Funchal, 7/8/1899 – Lisboa, 1/2/1973)
Poeta, um dos fundadores da Presença, uma distinta voz do fado de Coimbra onde estudou Direito.

Chico Buarque –  Construção
Fevereiro 25, 2015

Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Chico Buarque (Rio de Janeiro, 19/6/1944)
Música, dramaturgo e escritor.

Cassiano Ricardo – Rotação
Fevereiro 25, 2015

Cassiano Ricardo

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
de novo a esperança
na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
na esfera

Cassiano Ricardo (São José de Campos, Brasil, 26/6/1895 – Rio de Janeiro, 14/1/1974)
Poeta, ensaísta, jornalista, licenciado em Direito.

Carlos Drummond de Andrade – Canção Amiga
Fevereiro 24, 2015

Carlos Drummond de Andrade

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Carlos Drummond de Andrade (Itariba, 31/10/1902 – Rio de Janeiro, 17/8/1987)
Poeta, contista e cronista brasileiro, licenciado em Farmácia.

Branquinho da Fonseca –Castanheiros, Irmãos
Fevereiro 24, 2015

Branquinho da Fonseca

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Carregados de ouriços que são ninhos
Onde as castanhas dormem como noivos!

Troncos abertos,

Casas abertas,
Ao vosso abrigo
Dormem os pobres,
Pegam no sono,
Passam as noites
Quando cai neve!

Peitos vazios,
Escancarados,
Sem nada dentro,
Nem coração!
Dais lume, calor
E dais sustento para a mesa,
E dais o mais que eu não sei!…

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Apenas sou vosso irmão
Em que a terra vos criou
E criou-me a mim também;
Em que vós ergueis os braços
Suplicantes para os céus
E eu também levanto os meus…

Ah! Castanheiros, mas eu
Grito e vós ficais calados!
Seremos, por isto só,
Irmãos? Seremos? Não sei:
Vós tendes roupas de rei,
Eu tenho roupas de Job;
Vós só gritais quando o vento
Vos abre a boca e fustiga:
Então ergueis um clamor…
— Não calo nunca no peito
A dor do meu sofrimento
E nunca chego a dize-la,
Nem há ninguém que me diga.

Ó castanheiros de folha de ouro,
Não,
Eu não sou vosso irmão!…

Branquinho da Fonseca (Mortágua, 4/5/1905 – Lisboa, 6/5/1974)
Poeta, contista, romancista e dramaturgo, co-fundador das Revistas: Tríptico, Presença e Sinal – esta com Miguel Torga. Assinou algumas obras com o pseudónimo António Madeira. Filho do escritor Tomás da Fonseca. Licenciado em Direito.

Bocage – Dai-me Rosas e Lírios
Fevereiro 24, 2015

Bocage

Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas…
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas

Em me dardes muitas flores,
Nem isso… Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço

Que me deis flores…
Sejam essas as flores que me deis…

Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
Sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança

Com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
E a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
Estando eu a chorar naquela posição.

0 homem que apara o lápis à janela do escritório
Chama pela minha atenção com as mãos do seu gesto banal.
Haver lápis a aparar lápis e gente que os apara à janela, é tão estranho!
É tão fantástico que estas cousas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.

A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
Caída no chão…
Qual é o sentido da vida?

Manuel Maria Barbosa du Bocage (Setúbal, 15/9/1765 – Lisboa, 21/12/1805)
Poeta.